O paciente deve ser o sujeito e não o objeto do sistema de saúde
O Brasil atravessa dois fenômenos simultâneos que exigem atenção, planejamento e capacidade de adaptação de gestores, profissionais de saúde e clientes. Enquanto a transição demográfica nos conduz a uma sociedade mais envelhecida, a transição epidemiológica nos leva a um mundo em que as doenças crônicas exigem um modelo e uma intensidade do cuidado que as doenças agudas até então não exigiam. Programas isolados e fragmentados de saúde perdem a sua função quando o indivíduo não é visto em todo o seu contexto multisocial e consequentemante não trazem resultados que possam sustentar o sistema. O paciente agora não tem apenas uma única doença crônica, aliás termo em desuso quando se fala em coordenação do cuidado. A pessoa apresenta uma série de sinais e sintomas que associados ao seu contexto social e familiar influenciam no seu estado de saúde e qualidade de vida.
artigo de Roberta Tassi
Resultados só acontecerão após a identificação de valor pelas pessoas. A percepção do cliente precisa fazer parte do universo do sistema de saúde. Às vezes nós excluímos o indivíduo sem reconhecer essa pessoa que está submetida a determinantes sociais e que sofre esse processo de diferentes maneiras. Isso faz com que muitas vezes especialistas construam processos e diretrizes sem ouvir de quem utilizará o modelo se isso realmente é o que ele precisa, espera ou almeja. Assim, nos tornamos impositores de um modelo fadado ao fracaso.
A Espanha tem um exemplo interessante. Em uma determinada região de saúde foi criada uma escola de pacientes. O Sistema Nacional de Saúde espanhol é organizado sob a ótica da medicina geral de família, cobrindo 99,9% da população, com 70% da rede hospitalar e 71,4% do financiamento é público, cujos valores são recolhidos através de impostos. O sistema é gerido de forma independente por 17 comunidades, sendo que cada uma delas apresenta uma forma jurídica própria de acordo com a sua realidade. Com o aumento da prevalência de doenças como diabetes, hipertensão, obesidade e artrose, aumentou a carga de cuidados necessários a essa população, tornando necessário buscar novas formas de cuidados e empoderar os pacientes para que eles possam conduzir sua própria doença. Realidade distante de um Brasil tão precário como o nosso? Não... Não substimem nossos clientes!
Um dos maiores desafios que o sistema de saúde tem que enfrentar é cultural. O Brasil precisa mudar. Não, não é uma escolha, é fato da vida real. A sustentabilidade do sistema de saúde pede socorro. Caso nada seja feito, o sistema suplementar não suportará mais do que 5 anos e a saúde pública entrará em colapso. Reorganizar a cadeia da saúde, parar e considerar um novo modelo assistencial em que se coloque o paciente no centro não apenas dos problemas, mas também das soluções é função primordial nesse momento. A responsabilidade pela saúde precisa ser compartilhada. E para que isso aconteça, é essencial um modelo que integre todos os participantes do cuidado, de maneira que as informações e os processos de trabalho sejam programados e alinhados para garantirem eficiência e resultado, garantindo maior segurança ao paciente sobre os seus problemas de saúde e consequentemente ao seu próprio cuidado.
Em um futuro breve, não adiantará mais ser uma ilha de excelência em saúde. Se você não estiver integrado a um sistema saúde único e coordenado, o seu resultado será como uma casa de palha... Temporariamente eficiente, mas frágil e insustentável. Com um sopro mais forte, ela cairá... Não caia. Contrua uma casa de tijolos. ;)
#medicinaporamor #empreendertransforma
Artigo original
https://www.linkedin.com/pulse/o-paciente-deve-ser-sujeito-e-n%C3%A3o-objeto-do-sistema-de-roberta-tassi/
Autora
Roberta Tassi
Gestão em Saúde. Coordenação do Cuidado, Rede e Atenção Primária à Saúde.
Palestrante. Executive Coach
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