Cuidando da Saúde Mental no Setor Saúde

 artigo de Jaíne Diandra 

Burnout não escolhe apenas os que trabalham longas horas; ele alcança também aqueles que vivem em estado de urgência mental, incapazes de marcar o fim de uma tarefa para, então, permitir-se descansar.

aA vida quer viver. Nada é mais urgente do que a vida humana, mas, em meio à pressa, é necessário abordar a saúde mental de quem vive para socorrer.

Todos os setores da saúde exigem alto gasto de energia mental de seus profissionais. O cérebro, que corresponde a apenas 2 % do peso corporal, consome cerca de 20 %–25 % da energia do corpo em repouso e chega a quase 30 % durante tarefas de concentração intensa [1][2]. Cada decisão, cada protocolo, cada plantão aumenta essa demanda metabólica, deixando pouco espaço para o repouso cognitivo.

Sob esse ponto de vista, uma boa e curta dose de estresse agudo pode otimizar a performance: é um pico delimitado, com início, meio e fim claros. Já o estresse crônico nasce da dificuldade em organizar prioridades e marcar conclusões mentais, transformando a urgência em rotina tóxica. Estresse prolongado mantém o eixo hipotálamo‑hipófise‑adrenal (HPA) ativado, elevando cortisol e promovendo inflamação sistêmica, o que, a longo prazo, compromete sono, imunidade e saúde cardiovascular [5][6].

Segundo o Dr. Drauzio Varella, problemas práticos requerem ações objetivas e simples, não camadas emocionais ou filosóficas desnecessárias [4]. Ainda assim, muitos profissionais caem na armadilha do “jeitinho brasileiro” de resolver tudo na última hora. Precisar entregar um relatório em dez dias e pensar nele 24 horas por dia é como deixar uma aba de navegador aberta para sempre, consumindo energia de fundo e corroendo a serenidade.

Estudos revelam que o adulto médio toma cerca de 35 000 decisões por dia, incluindo microdecisões, gerando “fadiga de decisão” e prejudicando a qualidade das escolhas conforme o dia avança [3]. Procrastinar não é apenas má gestão de tempo; é um atentado silencioso ao funcionamento cerebral, pois o que não é concluído não é sinalizado como importante e permanece no campo de alerta, mantendo o organismo em tensão constante.

Burnout não escolhe apenas workaholics. Profissionais que batem ponto no horário, mas não estabelecem prazos internos, também vivem em estresse crônico. A imprevisibilidade nas rotinas hospitalares eleva a carga alostática – o “preço” que o corpo paga por se adaptar à pressão constante – com consequências que vão do cansaço extremo à depressão e ao erro médico.

Dados recentes indicam que 58 % dos trabalhadores da saúde relatam que o burnout afeta sua performance, e 55 % reconhecem impacto negativo no cuidado ao paciente. Além disso, o esgotamento cognitivo aumenta em até 2,5 vezes a probabilidade de rotatividade e de eventos adversos no hospital [7].

Muitos colaboradores não conseguem “desligar” o trabalho nem em casa. Sem fronteiras claras entre plantão e descanso, a angústia se instala e, sem intervenção, pode evoluir para tristeza profunda ou transtornos de ansiedade. Embora fatores culturais — como a romantização da sobrecarga e pressões capitalistas — contribuam, a responsabilidade de proteger a mente é individual e sistêmica.


Estratégias essenciais para prevenir o estresse crônico

  1. Priorização consciente
    Defina prazos internos claros e use check‑ins diários para sinalizar mentalmente o “fim” de cada tarefa.
  2. Micro‑pausas programadas
    Interrompa as atividades cognitivas a cada 90–120 min com exercícios de respiração ou breve alongamento.
  3. Gestão do eixo HPA
    Adote práticas de relaxamento (mindfulness, técnicas respiratórias) para modular a liberação de cortisol.
  4. Limites reais
    Estabeleça horários fixos de início e término de plantões, e respeite períodos sem notificações profissionais.

Conclusão
Quem cuida da vida não pode esquecer de cuidar da própria mente. Transformar o estresse de vilão em aliado exige disciplina na organização interna, na marcação de fins de tarefa e na criação de espaços reais de descanso. Apenas assim o profissional de saúde encontrará equilíbrio entre a urgência de salvar vidas e a urgência de preservar a própria vida. Porque a vida quer viver – inclusive a de quem cuida.


Referências

  1. Raichle ME. “The Brain’s Dark Energy.” Science, 2006.
  2. Harvard Health Publishing. “How Much Energy Does the Brain Use?” Harvard Health, 2020.
  3. American Psychological Association. “Decision Fatigue: What It Is and How to Overcome It.” APA, 2013.
  4. Varella D. “Resolução de Problemas Práticos.” Portal Drauzio Varella, 2019.
  5. McEwen BS. “Protective and Damaging Effects of Stress Mediators.” New England Journal of Medicine, 1998.
  6. Maslach C & Leiter MP. “Understanding the Burnout Experience: Recent Research and Its Implications.” World Psychiatry, 2016.
  7. Medscape. “National Physician Burnout & Suicide Report.” Medscape, 2021.

Sobre a Autora

Jaíne Diandra , Palestrante apaixonada e fundadora do Grupo Hakim — que já conecta gestores em mais de 10 estados do Brasil, com atuação em projetos de educação continuada, desenvolvimento de competências estudantis e comunicação estratégica na área da saúde.

Jaíne tem forte atuação em comunicação estratégica e liderança jovem, também produz conteúdos sobre Gestão Hospitalar no YouTube, onde já ultrapassa 150 mil visualizações, contribuindo para a disseminação de conhecimento no setor de saúde e o fortalecimento da gestão hospitalar.

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