Lavanderia e os cuidados com o enxoval

Recebemos este artigo de Valdinei Bolonha , apesar de originalmente Valdinei ter escrito pensando em Hotéis, acreditamos que também é muito relevante para os Hospitais ... 

Segue artigo:

Muito tem se falado sobre o “novo normal” e essa realidade tem afetado diretamente a todos os mercados. Não seria diferente com a Hotelaria. 

O segmento hoteleiro tem sofrido muito com a queda do mercado turístico, e isso tem ocasionado o fechamento de muitos empreendimentos. Tudo indica que a retomada do setor será lenta e ainda há o agravante relacionado à garantia de bem estar e à segurança de saúde das pessoas.

Fato é que um conjunto de normas e procedimentos deverá ser adotado para assegurar a conformidade dos processos hoteleiros, visando recuperar a confiança e credibilidade dos clientes (internos e externos). E neste aspecto, os cuidados com a limpeza, higienização e desinfecção de ambientes e suprimentos – incluindo os enxovais - estarão em evidência.

Segundo a Revista Hotéis 
“o enxoval é um verdadeiro cartão de visitas de um hotel, está intimamente ligado ao conforto e satisfação do hospede e reflete o padrão de serviços oferecidos pelo meio de hospedagem.”
Devido a isso, em caso de lavanderia própria, se faz necessário ter uma estrutura bem dimensionada e adequada logisticamente para o fluxo operacional do setor. A adoção de procedimentos e fluxos claros e funcionais, investimento em qualificação e treinamento da equipe, equipamentos de qualidade e com durabilidade adequadas, parceria com fornecedores de produtos químicos que cumpram rigorosamente às exigências da Anvisa e outros órgãos regulamentadores é de fundamental importância para garantir a qualidade dos processos. As mesmas exigências se aplicam para os serviços terceirizados, afinal, a imagem da empresa deve estar associada à de fornecedores com credibilidade.

Partindo desses princípios, fica evidente que o empreendimento hoteleiro que se preze deve redobrar a atenção e os cuidados com a gestão dos enxovais, roupas e uniformes.

Um desafio enorme, já que normalmente a correria da operação consome o dia a dia dos profissionais do departamento de governança e lavanderia, e o tempo se torna escasso. O ponto positivo é que mesmo diante de muitos obstáculos, é possível adotar procedimentos para garantir os cuidados necessários com esse patrimônio da empresa.

O Manual de boas práticas em lavanderia (Diversey, 2017) aborda os principais aspectos relacionados aos cuidados com as roupas e se torna uma importante fonte de consulta para a implementação de procedimentos e realização de treinamentos.

Coleta, transporte e classificação
  • Utilize sempre os EPI necessários e lave as mãos após separação para minimizaro risco de contaminação. Adote as precauções necessárias, especialmente quandomanipula roupa contaminada.
  • Classifique a roupa segundo o tipo de tecido, tipo de sujidade, nível de manchas e cores nos carrinhos / caixas identificados. Não acumule roupa no chão, use sempre carrinhos ou sacos. Evite o risco de quedas dos tecidos no chão durante o transporte por sobrecarga dos carrinhos.
  • Evite a contaminação assegurando que a roupa limpa está separada da que será lavada. Evite arrastar a roupa pelo chão. Isso pode causar manchas de arraste que dificilmente serão removidas no processo (automatizado e manual), ocasionando a perda da peça.
  • Use adequadamente os carrinhos de transporte, no percurso UH/lavanderia e dentro da área de processamento. Verifique regularmente se há presença de asperezas ou rebarbas para evitar danos a roupa.
  • Classifique a roupa segundo o tipo de tecido e nível de manchas e cores. Organize e limpe a área de separação para evitar que os carrinhos passem por cima das roupas.
  • Siga as instruções da etiqueta, muitos tecidos tem uma etiqueta que mostra as indicações de lavagem e acabamento do fabricante.
Carregamento e lavagem
  • Inspecione e limpe a máquina antes da lavagem para garantir que não tenhapartículas, objetos ou sujidades. Comprove o nível dos produtos para garantir que cada embalagem tenha a quantidade adequada de químico. 
  • Carregue adequadamente a máquina: A sobrecarga reduz a ação mecânica necessária para o processo de lavagem e tem muitos efeitos adversos tanto no resultado de lavagem como de passadoria.
  • A carga baixa aumenta o nível de agitação e fricção das peças e, por conta disso, reduz a vida útil do tecido; uma carga baixa também reduz a produtividade.
  • Utilize a balança ou um método de contagem de peças para carregar adequadamente as máquinas. Selecione o programa de lavagem correto na lavadora para cada tipo de roupa. Isso é muito importante para conseguir os resultados desejados e reduzir a porcentagem de retorno ao mínimo.
  • Os produtos de lavagem serão dosados automaticamente e com precisão no momento correto durante o ciclo de lavagem.
Descarregamento e acabamento

  • Após o processo de lavagem, a roupa deve ser armazenada em carrinhos limpos, assegurando que ao retirar da máquina não caia no chão. 
  • A roupa que será passada pela calandra deve ser separada da roupa que se colocará na secadora. É muito importante seguir as recomendações do fabricante para fixar uma temperatura de secagem correta, tal como indica a etiqueta.
  • Se a roupa está manchada depois da lavagem, deve ser lavada outra vez (seguir o programa adequado de lavagem para retorno). Se colocada na secadora, as manchas se fixarão e serão mais difíceis de eliminar no futuro, podendo ocasionando a perda da peça.
  • A sobrecarga da secadora pode causar enrugamento e isso pode aumentar o tempo de secagem, visto que a roupa não gira adequadamente e perda de eficiência produtiva. 
  • Não seque demais as roupas, já que isso pode ocasionar encolhimento, acinzentamento e aspereza. 
  • Retire sempre a roupa da secadora quando a mesma tenha parado completamente.
  • Quanto mais tempo a roupa fica na secadora, mais alto o risco de aparecimento de pregas e rugas, comprometendo a qualidade e o resultado do processo.
  • Assegure que a roupa tem a porcentagem de umidade residual adequada para calandrar. Isso contribuirá para um melhor resultado da passadoria evitando pregas e rugas (amassados). 
  • A qualidade do acabamento na calandra também estará afetada pela manutenção, limpeza e lubrificação do equipamento, já que os resíduos acumulados na parte superior e inferior dos forros podem aderir ou mesclar na roupa.
Qualidade e segurança

  • A qualidade de lavagem e acabamento será afetada positivamente com a manutenção e limpeza dos equipamentos da lavanderia. Limpar as felpaspresentes nos filtros diariamente, é uma prática obrigatória para reduzir a possibilidade de incêndio na roupa e para que haja um fluxo de ar adequado dentro do equipamento, evitando o comprometimento da produtividade.
  • A roupa quente nunca deve ser deixada nos carrinhos, já que isso pode provocar combustão espontânea. Utilize a opção de “cool down” caso a secadora tenha, uma vez que isso ajudará no resfriamento das peças e a prevenir a combustão da roupa quando é recolhida e armazenada.
  • Sempre utilize os EPI necessários e regularmente cheque a alimentação dos produtos para garantir que cada embalagem contenha químicos suficientes para o processamento das roupas. Não altere processos de lavagem ou interrompa o ciclo de lavagem antes que ele tenha terminado completamente. Isso pode danificar o tecido e ocasionar fraco desempenho dos processos químicos, além de contribuir para o retrabalho e comprometimento operacional.
E como teoria e pratica são divergentes em alguns aspectos, mesmo adotando os procedimentos mencionados anteriormente, é possível que ocorram situações que fujam ao controle, as chamadas ocorrências não esperadas. Dentre elas podemos citar:
  • Deficiência na remoção da sujeira 
    • Causas possíveis: 
      • dosagem insuficiente de produto ou uso de produto inadequado;
      •  tempo de pré lavagem e lavagem ou temperatura muito baixo; 
      • nível de água muito alto na pré lavagem e lavagem; sobrecarga de roupa ou má ação mecânica do equipamento.
    • Soluções: 
      • acionar o químico responsável para verificação e ajustes necessários nos processos;
      • orientar a equipe a abastecer os equipamentos com a carga de roupa adequada (respeitando a capacidade); 
      • acionar assistência técnica ou a manutenção para verificação das questões técnicas de funcionamento do equipamento.
  • Roupa branca amarelada
    • Causas possíveis: 
      • enxagues finais deficientes; 
      • teor de ferro na água elevado ou ferrugem na linha de abastecimento; 
      • água alcalina; 
      • uso de produto de lavagem sem branqueador ótico; 
      • dosagem excessiva de produto 
      • ou neutralização inadequada, deixando residual químico.
    • Soluções: 
      • acionar o químico responsável para verificação e ajustes necessários nos processos;
      • promover adequação da linha de produtos, se preciso, para melhorar o resultado;
      • realizar o tratamento da linha de abastecimento de água para minimizar os casos de ferrugem nas roupas.
  • Roupa branca acinzentada
    • Causas possíveis: 
      • reação do produto químico com água dura (acima de 200 ppm CaCO3);
      • falta de detergência para liberação da sujeira; tempo de pré-lavagem e lavagem muito longo ou muito curto; 
      • dosagem insuficiente de produto químico; 
      • sobrecarga de roupa na máquina.
    • Soluções: 
      • acionar o químico responsável para coleta e realização laboratorial de testes da qualidade da água; 
      • após resultado, promover os ajustes necessários nos processos ou no portfólio de produtos; 
      • orientar a equipe a abastecer os equipamentos com a carga de roupa adequada (respeitando a capacidade).
  • Danos químicos à roupa
    • Causas possíveis: 
      • perda de resistência das fibras devido a dosagem ou contato elevado com alvejante químico clorado; 
      • temperatura elevada no processo de alvejamento com químico clorado; perda da resistência da roupa devido a dosagem elevada de acidulante forte; 
      • desbotamento devido ao uso de alvejante químico oxidante ou por baixa solidez dos corantes presentes no tecido a processos de lavagem alcalinos.
    • Soluções: 
      • com o apoio técnico necessário, adequar os processos químicos, de maneira a equilibrar e controlar o teor de cloro, tempo e temperatura de alvejamento, dosagem e pH do acidulante. 
      • Abortar o uso de alvejante químico oxidante, priorizando produtos e processos neutros para preservar a cor das peças. 
      • Analisar minuciosamente a composição dos tecidos e dar preferência pela compra de materiais com boa solidez a produtos alcalinos.
  • Danos mecânicos à roupa
    • Causas possíveis: 
      • perda de resistência das fibras devido ao excesso de ação mecânica causado pelo nível de água ou tempo muito longo do processo de lavagem; 
      • rasgos na roupa devido ao esforço físico do lavador para retirar as peças da máquina, rebarbas no cesto do equipamento ou materiais cortantes que estavam no meio das peças e entraram na máquina. 
      • Tempo de vida útil das peças expirado.
    • Soluções: 
      • acionar o químico responsável para adequar os níveis de água e tempo de cada etapa dos processos; acionar a assistência técnica para manutenção no cesto do equipamento e orientar a equipe sobre os cuidados e atenção aos processos de classificação e separação das roupas. 
      • Fazer aquisição de novas peças.
No caso das manchas pontuais, é muito importante ter uma estação de tratamento manual
(spot). Esse processo deve ser adotado tanto para antes da lavagem das peças 
– em especial para sujidade de maquiagem, que dificilmente é removida no processo de lavagem convencional e ainda pode fixar devido às reações químicas e à temperatura 
– quanto após o acabamento do enxoval (peças para retorno). 

Vale lembrar que processo químico não faz milagre. E se usado sem equilíbrio, ainda pode danificar o enxoval e causar uma grande perda financeira. Por isso, sempre que for preciso ajustar uma fórmula,
acione o químico responsável.

Lavanderia é um universo complexo e muitas são as variáveis para que o processo de higienização do enxoval seja satisfatório. O dimensionamento da capacidade de processamento e a logística interna são fatores essenciais para a boa fluidez operacional e para garantir a segurança ocupacional. 

Além de exigir investimentos elevados em maquinários como lavadoras e extratoras, secadoras, mesas de passar, prensas e calandras e possuir elevado custo operacional com água, energia e manutenções, a gestão desse departamento também requer muita atenção, estudo, envolvimento, alinhamento e comprometimento de todas as partes interessadas 
– liderança, equipes operacionais e fornecedores.

Não é uma área de fácil compreensão, administração e gestão. Além das questões operacionais e de gestão de pessoas, entender sobre equipamentos, produtos e processos químicos e legislação sanitária é imprescindível. Por isso, antes de realizar alterações em processos e procedimentos é extremamente relevante avaliar os impactos que isso vai causar no macro ambiente. Ações desmedidas podem trazer prejuízos incalculáveis.


Sobre o autor: 



Profissional com mais de 14 anos de atuação nas áreas de Hotelaria e relacionamento com o cliente. Ampla experiência no suporte técnico e operacional, atuando desde 2013 nas rotinas de planejamento e gestão de serviços, contratação, treinamento e desenvolvimento de equipes, reestruturação e padronização de processos e procedimentos departamentais.

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